sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

CABO FRIO E O JAPÃO

O que Cabo Frio tem a ver com o Japão? Inauguramos o blog com a redação vitoriosa da aluna Maria Carolina, da Praia do Siqueira, no concurso Brasil Japão deste ano. Ela versou brilhantemente sobre as relações do Brasil e do Japão através da saga familiar da menina Aiko. O prêmio foi recebido na Academia Brasileira de Letras , numa chuvosa segunda feira, dia 7 de dezembro. A Giana (assist. da GEGI) e a Nilva (Coordenadora) na verdade, fizeram uma bagunça no auditório quando ouviram o nome da estudante em primeiro lugar. As duas nervosas não conseguiam nem sentar nas cadeiras. Já a aluna-escritora saiu com um merecido microcomputador, com uma tela de 18'' flat, impressora e tudo! Bom, agora chega de conversa, vamos à redação. Posteriormente, vamos postar uma entrevista com a aluna. Se bem que ela já está bem famosa no mundo web:
Macaé News - Aluna de Cabo Frio vence concurso de redação  http://www.macaenews.com.br/ver_not.php?id=48733&ed=Educa%E7%E3o&cat=Not%EDcias
Conexão Aluno - Aluna de Cabo Frio comemora prêmio de redação
Portal do Governo - Aluna de Cabo Frio vence concurso de redação
Confira os semifinalistas no Conexão Professor (foram muitos!)

Deve ter mais, postem nos comentários. Vamos ao belo texto da nossa escritora mirim.


Brasil e Japão, terras distantes, uma paixão

Aiko, a história de sua avó e os reflexos de se ter duas nacionalidades.

Oi, você deve estar se perguntando quem eu sou, e o que eu estou fazendo aqui. Bom, meu nome é Aiko Yoshida, e agora tenho dezenove anos de idade e moro no Brasil. A diferença de mim para a maioria dos brasileiros é que a minha família é de origem japonesa. Eu acho que seria legal falar disso para vocês.
Meus pais foram ao Japão quando minha mãe estava grávida, e eu nasci lá, mas sou naturalizada brasileira também. Acho isso bem diferente, pois posso ir para Hokkaido, a ilha em que nasci, quando eu quiser, até porque tenho parentes por lá. Claro, se eu pagar a passagem.
Agora eu gostaria de esclarecer uma coisa: só por que moro no Rio de Janeiro não quer dizer que eu não siga a cultura japonesa. Na verdade, acho que meus pais me obrigam a me esforçar muito para honrar minha nacionalidade. Sempre tenho aulas de japonês, falo japonês em casa, e acabei de voltar da minha aula de judô. Daqui a pouco eu vou para a aula de música popular japonesa.
Vou contar para vocês uma história bem rapidinha, me sigam, venham!
            Minha avó, Yoko Sato Yoshida, quando viva, me contava como era a vida aqui no Brasil quando era necessário trabalhar nas fazendas. Pelo que ela me contou, a história era mais ou menos assim: as coisas no Japão não estavam fáceis, e os prósperos anos haviam acabado. Sua família passava fome e batalhava para sobreviver. Sua vida não era perfeita, pelo menos não totalmente. Onde ela nasceu, em Kunashiri – uma ilha que fica ao norte do Japão na cidade de Hokkaido – era um local cuja atividade econômica principal era a agricultura, logo, sua família era uma das que viviam da plantação do arroz. Assim, às vezes, ela precisava ajudar sua mãe e seu pai no trabalho, ou então passariam fome. Eles não eram fazendeiros, e isso quer dizer que o trabalho tinha que ser bem grande. Ela sabia ler e escrever um pouco, mas não tinha tempo para estudar e as escolas eram muito longe, só aparecendo por lá às vezes. O que ela aprendeu mesmo foi plantar arroz, e o mais interessante é que ela gostava disso. Não sei se eram as montanhas brancas que pareciam rasgar o céu azul enquanto trabalhava, ou se era o cheiro da terra molhada debaixo dos seus pés descalços, que davam a ela a sensação de estar em cima de uma nuvem cheia de chuva. Só sei que ela contava que se sentia muito bem fazendo isso. Yoko também gostava de brincar com as ameixeiras. Havia uma perto de sua casa, e sempre achou suas flores lindas.
Em um belo dia, em meados de janeiro de 1925, o inverno em Kunashiri estava insuportável de tão frio. Acho que em nenhum ano em sua breve vida naquele lugar tinha visto um inverno tão gelado. Nem o calor do fogo a aquecia a ponto de se sentir realmente bem. Houve um grande aumento de população naquela cidade, o que já vinha acontecendo há muito tempo. Havia pouca comida e muita gente para alimentar no país inteiro, e a família Sato passava fome. Tinham tido sorte em sobreviver até aquele ano. Com poucos lucros e muito trabalho, o pai de Yoko não teve outra opção senão ir ao tão sonhado lugar, que era falado por muitos: o Brasil. Neste inverno mesmo arrumaram suas poucas coisas, pegaram um pouco de comida, e partiram. O objetivo deles era trabalhar e, depois de um tempo, voltar para a ilha. Em fevereiro, subiram no navio e vieram para o Brasil, sem saber se tudo correria bem ou não. Partiram com suas esperanças e a incerteza pesando na bagagem.
Durante as primeiras noites de viagem, Yoko se sentiu um pouco só, mas não demorou a fazer amizades. O que ela mais gostou foi, sem dúvida, olhar o mar: pacífico, caído na noite, tão escuro, tão quieto, tão atraente... Melhor do que ver o mar só ver o céu naquele mesmo momento, com estrelas que pareciam cair sobre a terra. Toda essa escuridão deixava Yoko e seus amigos simplesmente encantados.
Enquanto o navio se aproximava do Brasil, ela percebeu que à noite o céu mudava, e o clima ficava mais quente. Em uma tarde de fevereiro ela viu a terra, e começou a sonhar. Era bonita vendo de longe.
A viagem tinha sido cansativa, mas ao desembarcar no Rio de Janeiro, a pequena garotinha se impressionou com um dos lugares mais belos que ela já vira: a Baía de Guanabara. Com suas águas verdes e montanhas em volta, passava uma impressão de ter chegado ao paraíso, com o calor que todos precisavam sentir em seus corações. Passava um bem interior tão grande, que curiosamente lembrou-lhe de como era a vida em Hokkaido.
Chegando na fazenda em que iria viver, viu outra coisa curiosa: uma laranja, que se parecia com o sol. Pelo visto trabalharia com laranjas durante um bom tempo. Para sua sorte, o sabor desta fruta era muito bom, tinha um gosto meio azedo, mas ao mesmo tempo doce. Quando a provou, sentiu uma sensação de que sua língua estava diminuindo um pouco.
 A maior dificuldade de Yoko Sato foi aprender a falar o português, e a segunda maior foi ter que suportar os católicos dizendo a ela em quem deveria acreditar. Ela até gostava da história de Cristo, mas era uma perfeita budista e acreditava mesmo na paz interior de Buda. Mas mesmo com tudo isto, ela conseguia adorar o Brasil. Trabalhar para ela não era dificuldade, era diversão. Ela gostava de sentir a areia dos laranjais nos pés, que não eram tão geladas quanto a dos arrozais, mas nos dias de calor essa areia refrescava seus pés. Muitas vezes se sujava toda só pra sentir a terra em seu corpo. O verão no Brasil de vez em quando pode ser muito quente. Como havia outras crianças que trabalhavam por lá, brincavam de quem pegava mais laranjas, ou melhor, o pequeno sol, como ela dizia. Brincaram até o dia em que isso não foi mais possível, quando seus patrões passaram a não gostar da ideia deles “brincarem com o trabalho”.
Ela também aprendeu a ler e a escrever enquanto trabalhava, e realmente se esforçou para isso. Havia uma pequena escola de português na fazenda, que ensinava apenas o essencial. Depois que aprendeu o que precisava, ela nunca mais parou de aprender a língua portuguesa, pois achava o português, sem dúvida, uma das maiores belezas do Brasil. Suas palavras sempre em harmonia, tão belas, tão perfeitas, simplesmente a encantavam.  Teve de trabalhar até os seus dezenove anos, devido ao contrato de dez anos de trabalho. Seus pais juntaram dinheiro. Quando pretendiam voltar ao Japão, tensões políticas aconteceram, por lá e por aqui. Resolveram então adiar a viagem. Com a necessidade conseguiram um trabalho, e sobreviveram com esforço. Então uma coisa inesperada aconteceu: em 1941, e isso é oficial, estava acontecendo uma guerra no mundo. Alguns anos depois o Japão estava totalmente envolvido com isso, e o Brasil também. Pior: eram países inimigos.
Ela passou um tempo sofrendo preconceitos. Mas isso não impediu seus pais de pegarem o dinheiro da viagem e abrirem um restaurante em frente à Baía de Guanabara, perto do mar verde. Apesar dos preconceitos, estavam ganhando algum dinheiro com esse restaurante, pois a comida era boa. Logo depois da guerra ele se tornou um sucesso. Porém, não muito tempo depois de sua inauguração, o pai de Yoko morreu, e em seguida sua mãe também.
            Durante as confusões ela conheceu um rapaz, que como vocês devem imaginar era descendente de japoneses. Seu nome era Kamui Yoshida. Eles se apaixonaram e se casaram. E, sem muita demora, tiveram uma filha. Com muita paciência, sobreviveram e sustentaram sua filha Miyuki. Como recompensa de todo esforço, o restaurante que havia ficado de herança para Yoko passou a lucrar mais, e assim conseguiriam dar uma educação adequada a ela. Depois de um tempo voltaram para o Japão. Porém, com saudades, voltaram para o Brasil. Seus filhos tiveram netos, e contavam muitas histórias para eles, até o dia em que Yoko morreu.
Viram? Nem demorou tanto assim.
Eu sim, a neta de Yoko Sato Yoshida, penso dessa maneira: o Japão precisava do Brasil, e o Brasil, por sua vez, precisava do Japão. Os japoneses precisavam de outro lugar para ir, e o Brasil, de gente para trabalhar. Ambos estavam dispostos a se ajudar, e esse tipo de coisa é rara de se acontecer no mundo. Se a gente pensar bem, o Japão não seria o mesmo sem esse pequeno fator, e o mesmo aconteceu com o Brasil. Como eu não sou vidente, não sei o que teria acontecido de fato. Talvez tivessem sido países mais desenvolvidos, ou talvez tivessem ficado muito pobres. Há varias possibilidades, que na verdade são incertas. A única coisa certa é que igual ao que são hoje não seriam.
O Japão faz parte do Brasil, que é tão grande que cabe um montão de culturas diferentes dentro. Não me pergunte quais, pois existem várias: a indígena, a africana, a européia, a japonesa... Você já parou para pensar em como você é brasileiro? E já parou para pensar o quanto você é japonês? O quê? Você não nasceu no Japão? Bom pode ser, mas eu também não nasci no Brasil e me considero super brasileira. A questão é que não tem com ignorar isso: se você é brasileiro, vai entender um pouco da cultura japonesa e, sem perceber, você pode ver animê, ler um mangá, almoçar em um restaurante japonês, ou, até mesmo, por livre e espontânea vontade, querer entrar em uma aula de japonês, fazer aula de judô, suimê etc.
Está me entendendo agora? Não é uma escolha, é automático, acontece. Você aprende alguma coisa do Japão, só de viver no Brasil. Estranho, não? Mas é assim mesmo. Não digo isso porque sou japonesa, mas porque é a verdade. Pergunte para as pessoas na rua sobre o Japão, e todos saberão falar algo, nem que seja o mínimo, como “aquele restaurante que tem na rua do shopping”, ou “a TV do meu vizinho é de marca japonesa”, ou até mesmo que “existe aquela luta, o judô, que é de lá”.
O Brasil e o Japão não são lugares distantes que se uniram por simples necessidades econômicas, mas por terem se ajudado em um tempo difícil para os dois, o que despertou, tanto em japoneses, quanto em brasileiros, uma paixão que é quase impossível de explicar.






Colégio Estadual Praia do Siqueira
Aluno(a): Maria Carolina Gouvêa de Oliveira
Professo(a)r orientador(a): Viviane Antunes
Turma: 1001





Um comentário:

  1. Parabéns! Foi emocionante a nossa vitória ,lá na ABL. Vamos divulgar todos nossos trabalhos, projetos de nossas escolas, na terça dia 15/12, é sessão do curta C.E. ALMIRANTE TAMANDARÉ às 13 h no TEATRO MUNICIPAL DE SÃO PEDRO DA ALDEIA e às 16 h estaremos inaugurando a nova SALA DE RECURSOS DO CIEP 262 no PORTO DO CARRO.Visite nosso blog. Abraços Nilva Aparecida ( Coordenadora Regional)

    ResponderExcluir

Seguidores